Nós que por aqui vivemos.








" Viver
é muito perigoso. "

Guimarães Rosa

O nosso futuro.

Quero um cão que vá buscar e limpar minha banheira ; trazer meu cigarro ; dar fumo para meus animais e
ponha meus pássaros em consignação.

Procuro alguem para vender meu cão ;  pegar minha tosa ; comprar meu animal ; e dar um jeito no meu pássaro.

Procuro um lugar para banhar meu pássaro ; comprar meu cão ; pegar minha tosa ; me venda cigarros e pague meu banho.

Procuro um lugar que vá buscar minha consignação ; vender meu cão ; queimar meu pássaro ; e vender-me para o cigarro.

Vou passarinhar minhas compras ; buscar meu desejo e banhar a grana.

Estou procurando um lugar que vá animalizar minha alma ; tecer meu lucro ; banhar meu pé ; buscar meu cão ;
que me pague pela venda dos animais e pelo banho e ao pássaro pela tosa e me devolva aos cigarros.


Robert Allen Zimmerman

Redenção


"Temos medo do amor porque o amor é uma pequena morte,
o amor pede que voce se renda e nós não queremos nos render."

Osho

What we all need ??







Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.



OS TRÊS MAL-AMADOS, João Cabral de Melo Neto


Nosotras, las mujeres.



Entrevistador: Grande parte da sua obra é alusiva à sua própria imagem. Porquê?
Frida Kahlo: Pinto-me a mim própria porque estou muitas vezes sozinha e sou o assunto que conheço melhor.
Entrevistador: Sabe-se que só começou a pintar depois do acidente trágico que sofreu.Porquê?
Frida Kahlo: Pintar completou a minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas que teriam preenchido a minha vida. A minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor.
Entrevistador: Apesar das dores que sentiu, é uma pessoa muito alegre. Sei que adora uma bebida tipicamente mexicana.
Frida Kahlo: Eu bebo para afogar as minhas mágoas, mas as malvadas aprenderam a nadar! (risos) É preciso ter força para relaxar, rir, ser leve, a tragédia é ridícula.
Entrevistador: Entre a doença e os desamores, sente-se feliz?
Frida Kahlo: Não estou doente, estou partida! (risos) Mas sinto-me feliz por continuar viva, enquanto puder pintar.
Entrevistador: De algum modo pode-se intitular algumas das suas obras como surrealista?
Frida Kahlo: Pensam que sou surrealista. (risos) Não sou… Não pinto sonhos, só a minha própria realidade



No final dos anos 1950 e início dos anos 1960 no México, a cantora , costa riquense , Chavela Vargas, vestia roupas de homens, bebia e fumava charutos como qualquer um, carregava uma arma com ela e era famosa por seu amor às mulheres. 
Viveu um intenso romance com Frida Kahlo, anos depois foi resgatada do ostracismo pelo cineasta e Papa, Pedro Almodovar.
Em 2000, Chavela Vargas foi premiada com a Grande Cruz da Espanha de Isabel la Católica, mais alta honraria de reconhecimento artístico-cultural do país, na época em que assumia publicamente o orgulho lésbico aos 81 anos.

"Eu tive que lutar para ser eu mesma e ser respeitada.  
Tenho orgulho de carregar esse estigma e me chamar de lésbica.  
Eu não vou vangloriar-lo ou transmiti-lo, mas eu não nego isso. Eu tive que confrontar a sociedade e a Igreja, que diz que os homossexuais são condenados. Isso é um absurdo.  
Como pode alguém que nasceu como de forma igual ser julgado?
Eu não faziam aulas de lésbicas. Ninguém me ensinou a ser assim. 
Eu nasci assim, a partir do momento em que eu abri meus olhos neste mundo.
Eu nunca fui para a cama com um homem. Nunca.  
É assim que eu sou pura, eu não tenho nada para se envergonhar.
Meus deuses me fizeram do jeito que sou. "

Chavela Vargas, Jornal El País de Madrid em Outubro de 2000.

01. - Gabino Barreras - 3:25"
02. - Los dos hermanos - 3:00"
03. - Anselma Guzman - 3:42"
04. - Valentin de la sierra - 2:59"
05. - Heraclio Bernal - 3:24"
06. - Juan charrasqueado - 3:35"
07. - Simon Blanco - 4:16"
08. - Lucio Vazquez - 4:13"
09. - Felipe Angeles - 3:32"
10. - Valiente Quintero - 4:24"
11. - Benjamin Arguilero - 3:49"
12. - Benito Canales - 3:08"





Antes arte do que nunca II


Nossos sonhos.

- Bom dia ; qual o nome desse povoado?
- Não há ; Nós o chamamos de
"O Povoado".
- Não há eletricidade aqui?
- Não precisamos.
...as pessoas acostumam-se ao conforto. Acham que o conforto é melhor. Rejeitam o que é realmente bom.
- Mas e as luzes?
- Temos velas e óleo de linhaça.
- Mas a noite é tão escura.
- É. Assim é a noite.
...por que a noite deveria ser clara como o dia? 
...eu não ia querer noites claras, que não me deixassem ver estrelas.
                                           

...em o vilarejo dos moinhos, " Sonhos " de  Akira Kurosawa.


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Agora um bombaço na cara com esse som aqui do Dry&heavy, comunidade rasta japonesa de reggae explosion da melhor qualidade. variantes do Dub como o Dubstepa são frutos dessa tecnologia nuclear aí, o que começou como uma dupla de baixo e bateria , se transformou em uma orquestra alucinante com uma vocalista radioativa.



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 ...contamina como Nagasaki e Hiroshima.

Respeito



 " O homem branco possui uma qualidade que lhe fez abrir caminho: o irrespeito."

( Henri Michaux )      

Linton Kwesi Johnson - New Craas Massahkah by Modo de Usar & Co.

PERCA TEMPO !





Manifesto Internacional Situacionista 

" A igreja queimou noutros tempos os pretensos feiticeiros para reprimir as tendências lúdicas primitivas conservadas nas festas populares. Na sociedade hoje dominante, que produz massivamente tristes pseudo-jogos da não-participação, uma atividade artística verdadeira é forçosamente classificada no campo da criminalidade. É semiclandestina. Surge na forma de escândalo. 

Que é isso, de fato, mais que a situação? Se trata da realização de um jogo superior, que mais exatamente é provocada pela presença humana. Os jogadores revolucionários de todos os países podem reunir-se na Internacional Situacionista para começar a sair da pré-história da vida quotidiana.
...
Quais deverão ser os principais caracteres da nova cultura e como ela se compararia com a arte antiga?

Contra o espetáculo reinante, a cultura situacionista realizada introduz a participação total. 
Contra a arte conservada, é um organização do momento vivido diretamente." 
 
Manifesto Internacional Situacionista , Publicado em Internationalle Situationniste nº 4, França em 17 de maio de 1960, trad. de Juan Fonseca publicada en DEBATE LIBERTARIO 2 - Serie Acción directa,  em  maio de 1977. 
Traduzido para o português pelos editores da BibliotecaVirtual Revolucionária.


- Estes e outros preciosos textos:


Poro, uma dupla de artistas que desenvolve intervenções urbanas e ações efêmeras. 
A partir de suas ações opera nos sistemas de comunicação, circulação e trocas simbólicas realizados nas cidades. 
Atuando tanto no espaço institucional quanto no espaço não institucional, reconhece o espaço público como lugar de convívio e campo ampliado para a articulação de proposições artísticas.


Aqui uma amostra do trabalho do coletivo Poro, 21 páginas do livro em formato pdf ;













Quando o telefone não tocar sou eu.

Te envio o mar. 
O mar rumoroso que trago em mim, um mar de sal e conchas que talham os pés, um mar de areias, poeira, moluscos enterrados.
Te envio o mar que trago nas mãos e desfio pérolas em contas de lágrima, alívio, vento no rosto, maresia e iodo, coral. 
Te envio o mar que trago nos olhos, ardidos, cheios de terra, ondas e espuma, um mar que pode estar perto de ti, ainda que estejas longe dele. 
Te envio o mar que trago na boca, salitre, sol, palavras fugidias que não escutarias com a rebentação. 
Te envio o mar que faço em mim.

  Antoniete


    

Bárbara Eugênia, carioca que vive em São Paulo cercada de gente do mundo todo, se parece sim, crença nas suas composições, como quem acorda, pega a trilha de sonhos e submete ao assobio do namoro novo ou afoga tudo na quentura da manteiga que derrete nos cafés das manhãs
Xico Sá, poeta.



-Do que se trata?
Som retrô com influencia do asfalto de interior metido a nova york.
O bom e velho meio bossa nova e rocknroll.
Indicado para pessoas que ja viveram um grande amor, ou acharam isto um dia.

Barbara Eugenia - Journal de BAD, 2010.
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*discotecanacional.wordpress